Quadrilha desviou R$ 2 milhões
O esquema de corrupção montado dentro da superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) no Rio Grande do Norte desviou cerca de R$ 2 milhões, através de superfaturamento, fraudes na execução dos serviços e pagamentos indevidos em duas obras federais no estado. A quadrilha era operada pela cúpula do Dnit. O superintendente Fernando Rocha Silveira e outras quatro pessoas supostamente envolvidas foram presas na manhã de ontem (05). O substituto dele do Dnit, Gledson Maia, sobrinho do deputado federal João Maia (PR), e um outro envolvido no esquema foram presos no início da tarde de quinta-feira, em flagrante, com R$ 50 mil em propina.
A prisão de Gledson Maia foi o estopim para deflagrar a “Operação Via Ápia” - o nome de uma as famosas estradas que interligava províncias no Império Romano - nas primeiras horas da manhã dessa sexta. O superintendente substituto foi preso em flagrante junto com um empresário, quando recebia R$ 50 mil de propina no estacionamento de um restaurante da zona Sul de Natal.
A empresa foi escolhida, sem licitação, para realizar serviços de reparação na ponte sobre o rio Açu, na BR-304. A obra não fazia parte das investigações da “Via Ápia”, mas Gledson Maia integrava a lista de seis investigados pela Polícia Federal que, seguindo recomendações do Tribunal de Contas da União, apurava indícios de corrupção na obra do Lote 2 da duplicação da BR-101, que vai de Arês até a divisa com a Paraíba.
Os outros cinco mandados de prisão temporária, expedidos pelo juiz federal Mário Jambo, foram cumpridos na manhã de ontem. E as sete pessoas presas nos dois últimos dias continuavam detidas até a tarde dessa sexta-feira, na sede da PF, em Lagoa Nova. Além de Fernando Rocha, fazem parte da lista outro servidor do Dnit, responsável pela fiscalização de contratos no Lote 2 da BR-101, e mais três representantes do consórcio que vem realizando os serviços, formado pelas empresas Constran/Galvão/Construcap.
Gledson Maia e o tio João Maia (PR)
Em uma entrevista coletiva na manhã de ontem, o delegado da Polícia Federal, Caio Marques; o superintendente da PF, Marcelo Mosele; o procurador da República, Ronaldo Pinheiro; e o chefe da Controladoria Regional da União no RN, Moacir Rodrigues de Oliveira, detalharam alguns aspectos das investigações, mas não forneceram os nomes de todos os detidos. Segundo eles, os envolvidos são suspeitos de crimes como formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa e passiva e crimes contra a Lei de Licitações. Não há dados de quando, exatamente, o grupo começou a operar.
A operação foi um trabalho conjunto da Polícia Federal, Ministério Público Federal e Controladoria Geral da União (CGU). Participaram 50 agentes da PF e seis auditores da CGU. Além das prisões, foi efetuada uma “condução coercitiva”, de um representante do consórcio, para ser ouvido na sede da Polícia Federal. Na residência de um dos servidores do Dnit, os policiais encontraram R$ 258 mil, 10 mil dólares e 900 euros. O material apreendido inclui ainda documentos, processos, computadores e vários outros elementos que podem servir de prova.
O procurador da República, Ronaldo Pinheiro, confirmou que os alvos da operação são os servidores e empresários já presos, mas não descartou a possibilidade de haver mais gente envolvida nem que o valor desviado ultrapasse as estimativa inicial de R$ 2 milhões. “As investigações não foram concluídas”, destacou.
Dentre as formas de corrupção listadas nas investigações, estariam pagamentos superiores ao contratado, medições adulteradas da obra e contratação viciada de aditivo “para acobertar a inexecução correta da obra por parte do consórcio.” Uma fonte policial confirmou que os envolvidos “receberam várias remessas de dinheiro, sempre em espécie, e algumas delas chegaram a cifra de R$ 300 mil”.
A Polícia Federal tem agora 30 dias para concluir o inquérito e encaminhar ao Ministério Público Federal, que decidirá por ingressar, ou não, com uma denúncia contras envolvidos na Justiça.
Gleidson Maia foi cotado para assumir o DER
O deputado federal João Maia (PR) nao foi encontrado para dar explicações. Informações extraoficiais apontaram que o parlamentar não viria ao Estado nesse final de semana. O líder do PR foi o responsável pela indicação de Gleidson Maia, sobrinho dele, para a direção regional do DNIT e de Fernando Rocha para o cargo de superintendente do mesmo órgão.
Em fevereiro de 2010, durante a reforma do secretariado da então governadora Wilma de Faria (PSB), Gleidson Maia chegou a ser cotado para assumir a direção geral do Departamento de Estradas e Rodagens. O nome dele, indicação do tio João Maia, foi dado como certo. O próprio deputado federal confirmava a notícia. Mas Gleidson terminou declinando do convite com a concordância do líder do PR. Em entrevista feita no mês de fevereiro João Maia enalteceu o trabalho do sobrinho na direção do Dnit. O engenheiro é hoje um dos principais réus na Operação Via Ápia.
“Tenho orgulho porque o DNIT, que é ligado ao PR, está fazendo um show nas estradas. Até disse que não valeria à pena tirar uma pessoa do DNIT hoje para ir para o DER (no caso da desistência de nomear o engenheiro Gleidson Maia, diretor adjunto do DNIT, para diretoria geral do DER), porque eu estaria descobrindo o pé e cobrindo o pescoço”, disse João Maia, na entrevista publicada no dia 14 de fevereiro de 2010.
Fonte: informações do jornal Tribuna do Norte - 06/11/2010
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