quarta-feira, 14 de abril de 2010

Corrupção

Lula confessa que sabia do esquema do mensalão

Presidente afirma ao STF que foi informado sobre o caso por Roberto Jefferson

Diego Cruz, do jornal Opinião Socialista em São Paulo

Quase cinco anos após o escândalo conhecido como “mensalão”, o presidente Lula confirmou ao Supremo Tribunal Federal que foi informado sobre o esquema pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB), ainda em março de 2005. Lula é uma das 40 testemunhas arroladas no processo que se arrasta no STF desde 2007.

O Ministério Público, autor da ação, elaborou um questionário a Lula, que o respondeu por escrito e remeteu ao ministro Joaquim Barbosa, relator do processo. “Pelo que me lembro, ao final de reunião, no primeiro semestre de 2005, e na presença de Aldo Rebelo, Walfrido dos Mares Guia, Arlindo Chinaglia e José Múcio Monteiro, Roberto Jefferson fez menção ao assunto”, afirmou Lula ao tribunal.

Segundo o presidente, ele teria requisitado ao então ministro das Relações Institucionais, Aldo Rebelo (PCdoB) e ao então líder do governo Arlindo Chinaglia, que verificassem as informações de Jefferson. Além das questões do Ministério Público, Lula respondeu também algumas perguntas enviadas por réus do processo, como José Dirceu, João Paulo Cunha, Professor Luizinho e Luiz Gushiken. Lula afirmou não conhecer nenhum fato que desabonasse os réus.

Lula sabia

A resposta de Lula ao STF, divulgada nesse dia 13 de abril, mas remetida uma semana antes ao tribunal, contrasta com afirmações do presidente em meio ao escândalo que abalou o governo durante quase todo o ano de 2005. Na ocasião, Lula afirmou que não sabia sobre o esquema de compra de votos de parlamentares no Congresso. Estranhamente, agora, a imprensa pouco repercutiu a confissão do presidente.

A denúncia do Ministério Público foi redigida pelo procurador-geral Antonio Fernando Souza. “A farta distribuição de recursos é fato provado, seja pela admissão do seu recebimento pelos próprios destinatários ou intermediários, seja pelo depoimento de testemunhas ou pelas provas documentais”, afirmou o procurador quando a denúncia foi enviada ao STF.


Relembre o caso

O escândalo do mensalão explodiu em meados de 2005, a partir da divulgação de um vídeo mostrando um suborno na direção dos Correios. O então deputado Roberto Jefferson, acuado, denunciou o esquema, revelando que não se resumia a um caso de corrupção isolado numa estatal. Revelou um esquema de compra de votos, que desviava recursos públicos para o pagamento de deputados da base aliada a fim de aprovar temas polêmicos, como a reforma da Previdência em 2003.

A partir daí, uma sucessão de revelações quase diárias de denúncias foi desnudando um amplo esquema de corrupção comandado diretamente pelo então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, tendo ao seu lado o publicitário Marcos Valério. Por meses, o país praticamente parou, atônito, diante da avalanche de denúncias, com direito a relatos de malas abarrotadas de dinheiro saindo do escritório do PT à prisão do assessor do partido com dólares na cueca.

A oposição de direita, capitaneada pelo PSDB e PFL, num primeiro momento, utilizou o escândalo para tentar desgastar eleitoralmente o PT e retomar a presidência em 2006. Tiveram amplo auxílio da mídia para isso. Com o aprofundamento das denúncias e a revelação do envolvimento da direita no esquema, o caso foi sendo gradativamente abafado e saiu das primeiras páginas dos jornais.

Já o PT articulou uma defesa dizendo se tratar tão somente de “caixa 2” para o financiamento de campanhas eleitorais. Hoje, cinco anos depois das revelações que abalaram o país, seus principais protagonistas estão soltos e impunes. José Dirceu e Roberto Jefferson perderam o mandato de deputados, mas continuam atuando livremente. Dirceu inclusive faz fortuna atuando como lobista no governo.

José Genoíno, então presidente do PT naquele período, foi eleito deputado em 2006 e continua impune. Outro que, vez ou outra, aparece nos noticiários é Delúbio Soares, que atua para voltar à vida pública. O processo no STF, por sua vez, confirma se tratar tão somente de uma medida para, na época, acalmar a opinião pública. Nem mesmo os réus se preocupam mais com ele.

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