DA CULTURA DO ESTUPRO
A VIOLÊNCIA DO ESTADO. NÃO NOS CALAREMOS!
*Manifesto do
Movimento Mulheres em Luta (MML), filiado à CSP-Conlutas

Esses homens, não apenas violentaram sexualmente a menor,
como expuseram na internet o vídeo de tal episódio e, com isso, fomos bombardeadas
(Sim, digo “fomos” porque todas as mulheres sentiram na pele a dor de cada
comentário!) por argumentos dos mais diversos que pactuavam com a situação, que
achavam natural o acontecido ou que buscavam justificativa para tamanha
violência a partir do comportamento da vítima.
Frases como “Ela usou droga por que quis” ou “Deu bobeira,
foi amassada”, ou aquelas argumentações já conhecidas de que “ela não deveria
estar naquele lugar, com aquela roupa”, etc. são evidências de quanto o
machismo e a violência, sobretudo a sexual, são naturalizados em nossa
sociedade, o quanto a responsabilização da vítima é vista como elemento de
ponderação para avaliar os casos, o quanto nossa liberdade e poder de decisão
são ignorados cotidianamente. Não há nenhuma reflexão, a não ser pelas próprias
mulheres, de que esses homens sabiam o que estavam fazendo, não agiram por
impulso, não filmaram e divulgaram tais imagens sem saber o que estavam
fazendo. Pelo contrário, estavam bastante confortáveis e embasados na ideologia
do machismo, na idéia de que as mulheres são objetos sexuais e que podem ser
tratadas de qualquer forma. É essa ideologia que faz com que a mãe de um deles
afirme que “o filho errou, mas quem o conhece sabe que ele não é assim”, que
faz com a imprensa utilize o termo “jovem que supostamente sofreu estupro
coletivo” e dê bastante ênfase ao fato dela ser usuária de drogas há cerca de 3
anos.
É preciso dizer as coisas como elas são. Não foi um erro o
que aconteceu, foi um crime! Não foi um ato isolado, certamente esses homens já
cometeram outros atos de violência contra as mulheres que, podem não ter sido
tão bárbaros, mas que com certeza deixaram marcas. Como pode ser um suposto
estupro se tem o vídeo postado pelos próprios agressores se vangloriando do
feito? Qual a relevância da informação de que ela é usuária de drogas? Por
acaso isso diminui a responsabilidade dos estupradores? Não.
Toda essa naturalização e a busca de justificativas fazem
com que milhares de mulheres sejam violentadas, todos os dias, no país e no
mundo. Quando saem para o trabalho, quando voltam da escola ou quando ficam
sozinhas em casa são alvo de agressões e de culpabilização. Somente em São
Paulo, a maior cidade do país, a cada 1 hora uma mulher é vítima de estupro. Em
pesquisa realizada pelo sindicato de metroviários de São Paulo com usuárias do
transporte coletivo, mais de 80% das mulheres relataram já terem sido
assediadas nos vagões e estações. Já vimos casos de mulheres que ao irem à
delegacia denunciar um caso de abuso, foram vítimas novamente, por parte
daqueles que deveriam protegê-las.
Por isso, é muito importante localizar que a
responsabilidade por casos como esse, não são apenas daqueles que o cometeram
diretamente. A falta de investimento público nas políticas para as mulheres
cobra seu preço. Infelizmente no governo da primeira mulher presidente no país
tivemos míseros 0,26 centavos investidos por cada vítima da violência machista.
Além disso, nossas pautas sofreram também com os acordões entre os governos e a
bancada conservadora, como o que impediu a ida dos kit’s anti- homofobia para
as escolas em 2011, ou o que fez o governo do PT se calar frente ao PL 5069/13
do Eduardo Cunha e, mais recentemente, a retirada da discussão de gênero do
Plano Nacional de Educação que teve reflexo nos planos estaduais e municipais.
Sabemos que o descaso com a pauta das mulheres segue no
atual governo Temer/PMDB e que a oposição do PSDB tão pouco tem compromisso com
nossos interesses. Por isso, para arrancarmos qualquer conquista é necessário
seguirmos intensificando a nossa luta, junto com a classe trabalhadora,
derrotando todos os ataques dos governos e da bancada conservadora; impondo a
discussão sobre o machismo e todas as formas de opressão nos diversos espaços
como brilhantemente têm feito os secundaristas nas ocupações de escola e os
trabalhadores em suas greves e mobilizações; realizando manifestações e fazendo
repercutir casos como esse estupro coletivo, que passaria isento pela imprensa
burguesa.
Muitas de nós já tombaram nas fábricas, nas escolas, nos
transportes coletivos, nas ruas escuras. Não deixaremos que sejam esquecidas!É
preciso transformar toda nossa indignação em força para lutar, é necessário
seguirmos firmes na tarefa de destruir essa sociedade capitalista que reproduz e
incentiva o machismo e toda forma de opressão para garantir seus lucros.
Nenhuma mulher a menos! Nenhuma de nós merece ser estuprada!
Não aceitaremos mais nenhuma mulher vitima da violência machista!Punição aos
estupradores! 1% do PIB para as políticas de combate a violência contra a
mulher! Basta desses governos que oprimem e exploram as mulheres trabalhadoras!
Fonte: Sindsaúde-RN Estadual
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