FÓRUM CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DO SUS CONDENA PORTARIA 958
NOTA DE REPÚDIO À PORTARIA Nº 958 DO MINISTÉRIO DA SAÚDE QUE
AFETA GRAVEMENTE A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA
O Fórum pela Saúde do Rio de Janeiro e os trabalhadores,
moradores, militantes, entidades e movimentos populares presentes no I Encontro
Popular de Saúde do Rio de Janeiro no dia 21 de maio de 2016 decidem, por meio
desta nota, repudiar a formulação e a publicação da portaria nº 958, de 10 de
maio de 2016 que altera a Política Nacional de Atenção Básica (Portaria nº
2.488/GM/MS, de 21 de outubro de 2011).
Tal portaria tem como objetivo “ampliar as possibilidades de composição
das Equipes de Atenção Básica”, extinguindo a obrigatoriedade do Agente
Comunitário de Saúde (ACS) nas equipes da Estratégia Saúde da Família. A
portaria defende que a incorporação de mais técnicos de enfermagem, como forma
de substituição dos ACS, deve-se à necessidade de adequar a oferta das equipes
à transição demográfica e ao perfil epidemiológico da população. As razões para
esta nota de repúdio se devem:
I)Ao reconhecimento de que o trabalho dos ACS tem sido
fundamental para que a Atenção Básica resista ao modelo biomédico,
hospitalocêntrico e privatista ainda hegemônico no Brasil. Neste sentido,
considera-se os ACS trabalhadores fundamentais à construção de um modelo de
atenção à saúde cuja organização se dá à partir do reconhecimento da
determinação social do processo saúde-doença
superando a clínica individual, normativa, médico-centrada e prisioneira
de procedimentos, que faz parte da formação e atuação de boa parte dos outros
profissionais que compõem as equipes de SF e de sua lógica de gestão ao longo
dos últimos anos.
II) Não há dúvidas de que a ESF tem se constituído como
forma de materialização do SUS na vida de aproximadamente 60% da população
brasileira. Sua resolutividade está condicionada, entretanto, a materialização
de outras políticas públicas, que garantam a melhoria das condições de vida da
população, e a medidas estruturais, tais como: a universalização da cobertura,
a redução do número de famílias acompanhadas pelas equipes, a constituição de
uma carreira para seus trabalhadores, o fim dos processos de privatização e a
garantia da formação técnica dos ACS.
III) Mudanças na composição da equipe mínima de SF devem ser
no sentido de ampliar a presença de trabalhadores e não podem excluir
justamente àqueles que têm maior atuação nas comunidades, junto a população e
seu território. Caberia mesmo aos técnicos de enfermagem todas as atribuições
de um ACS? Ou a portaria tenta subestimar a capacidade de reflexão dos sujeitos
que vem apostando na Atenção Básica ao longo de todos estes anos? A ampliação
da equipe não pode, ao mesmo tempo, se restringir aos técnicos de enfermagem,
pois as necessidades de saúde da população são diversas e esse profissional não
pode responder à todas elas.
IV) Denunciamos também que a portaria nº 958, de 10 de maio
de 2016 estabelece como carga horária mínima 80 horas semanais enquanto soma do
trabalho de ACS e/ou Técnico de Enfermagem, o que na prática viabiliza a
demissão de ACS mesmo que sem a substituição por Técnicos de Enfermagem.
V) Por fim, de forma mais contundente, repudiamos ainda o
processo de aprovação desta portaria, que se deu em reunião da Comissão
Intergestoras Tripartite (CIT) em circunstâncias prévias a um golpe de Estado,
que foi assinada ainda durante o governo Dilma. Esta portaria, além de
atacarque ataca diretamente à luta por um sistema de saúde integral, é parte do
golpe aoSUS orquestrado pelo ajuste fiscal, que já vinha ocorrendo antes mesmo
do processo de impeachment. Essa portaria não poderia ter isso publicada, por
tratar de mudança estrutural da Política Nacional de Atenção Básica, sem amplo
debate junto ao órgão máximo de deliberação do SUS que é o Conselho Nacional de
Saúde. Todos os gestores que participaram da reunião da CIT são responsáveis
junto de José Agenor Álvares da Silva por este ataque à participação social que
é uma diretriz central do SUS, precisamos divulgar o nome de cada um deles para
que fique registrado na história.
Por fim, destacamos que o ataque ao trabalho dos Agentes
Comunitários de Saúde possui caráter classista, na medida em que os Agentes
possuem origem comunitária, vivenciam as mesmas condições da população que
procura o serviço e também são convocados a pagar as contas do ajuste e do
golpe. Conclamamos a todos os trabalhadores e usuários do SUS que lutemos pela
revogação dessa Portaria, apoiando e se somando às lutas dos Agentes
Comunitários de Saúde e da efetivação do SUS como um processo civilizatório.
FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE
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